• 22 de julho de 2018

Picos e Vales / Homens e Meninos

A vida nos proporciona as experiências que precisamos no momento certo, e se estivermos atentos, não nos faltam oportunidades de aprendizado.

Eu tinha acabado de ler o livro Picos e Vales, saí para levar meu filho até a casa de uns amigos e aproveitei para dar uma volta na Beira-mar e pensar sobre a leitura, continuando essa conversa com Spencer Johnson (autor do livro) dentro de mim.

O livro fala exatamente sobre a importância de nos mantermos numa postura de aprendizado quando passamos pelos momentos mais difíceis de nossa vida, que ele chama de Vales, para que possamos superá-los e sair mais fortalecidos de cada desafio que a vida nos apresenta. Assim poderemos usufruir com mais sabedoria os momentos de Pico, que são nossos momentos de vitória, de conquista de nossos objetivos pessoais e profissionais.

E Spencer Johnson fala também sobre a importância de ter consciência da realidade, pois no decorrer da nossa vida haverá vários Picos e Vales, que são apenas momentos que vivemos. É essencial não nos confundirmos, achando que o Vale ou o Pico sou eu. É a minha postura diante da vida que determina quem eu vou me tornando durante a jornada.

Voltando ao meu passeio,quando eu voltava pra casa, parei num sinal vermelho e observei que ali mesmo na Av. Beira-mar de Florianópolis, onde o termômetro hoje à noite marcava 11 graus, havia um homem alto, vestido com casaco preto, tênis, usando um boné, um homem que parecia ter mais de 40 anos.

Este homem estava diante de uma lixeira e tirava saquinhos de lixo de dentro da lixeira, e quando encontrava latinhas de refrigerante ou outra bebida, as colocava no chão, fechava o saquinho, devolvia pra lixeira, e após esse ritual, com um movimento firme e diria até elegante, ele amassava as latinhas que estavam ao lado dos seus pés e as colocava em um saco preto que após fechar, o carregava atrás do ombro, e seguia caminhando, com a postura ereta, cabeça erguida, provavelmente até a próxima lixeira.

Essa cena aconteceu muito rápido, e quando olhei pra frente, o sinal ainda fechado, estava diante de mim um jovem, de bermuda, me olhando fixamente enquanto segurava um papelão escrito com letras grandes FOME.

Eu estava pensativa naquele momento, olhei nos olhos do garoto, e ele desviou o olhar, saiu da minha frente, e por algum motivo decidiu não vir até mim. O sinal abriu em seguida.

Foi impossível pra mim, que trabalho com Líderes e Engajamento de Equipes, não refletir sobre o quanto aquele homem que retirava latinhas de dentro do lixo era um verdadeiro líder de sua vida, pois não importa o vale que ele esteja vivendo hoje, ele decidiu continuar no controle de sua vida, e assumir esse controle com dignidade, bem como diz Viktor Frankl em seu livro Em busca de sentido: “Você pode privar a pessoa de tudo, menos da liberdade última de assumir uma atitude alternativa frente às condições dadas”.

Por outro lado, aquele rapaz, tão jovem, no frio, de bermuda, carregando a palavra FOME, precisando de alguém que olhe por essa situação que ele se encontra. E não pra ele, como eu olhei. Ele também estava assumindo um posicionamento diante das condições que lhe são dadas.

Um homem, assumindo sua responsabilidade e fazendo o que está ao seu alcance para manter sua autonomia e sua dignidade. E um jovem, informando que está com fome,e que precisa de ajuda.

Assim como eles , nós também em vários momentos de nossas vidas podemos assumir o protagonismo e fazer o que está no nosso controle para sair da situação em que nos encontramos,ou podemos nos submeter ,abrindo mão do que está no nosso controle e esperar que alguém faça por nós o que não estamos fazendo.

É a diferença entre a postura do homem e do menino. E isso independe da idade, ou da situação, está relacionado à uma atitude de liderança interna dentro de nós.

É lógico que neste fato que vivenciei hoje, há várias questões sociais envolvidas e nunca nos cabe julgar o que faz uma pessoa estar no centro ou à margem de sua vida.

Mas nos cabe sempre refletir, sobre o que eu estou fazendo por mim e pelo sistema em que estou inserida, dentro das condições que eu tenho de fazer diferente para impactar de forma positiva no futuro que eu desejo.

O que posso fazer como indivíduo e o que podemos fazer como sociedade? Como podemos nos posicionar, para aprender nesse Vale que estamos hoje, algo que nos ajude a sair dessa situação que está tão sofrida pra tanta gente?

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